24 de abril 2020
24 horas de solidariedade feminista contra as empresas transnacionais
No conflito entre o capital e a vida, nós escolhemos a vida!
No dia 24 de Abril, a Marcha Mundial de Mulheres lança as 24 horas de ação contra o poder e a impunidade das corporações transnacionais, no âmbito da nossa 5ª ação internacional. Para isso, estamos a alimentar uma corrente virtual para denunciar a atuação das corporações internacionais que exploram e destroem a vida das mulheres. Não esquecemos os milhares de mulheres que morreram ou ficaram feridas quando aconteceu o colapso das torres da Rana Plaza no Bangladesh, em 2013. Até hoje, vítimas e famílias não viram justiça ser feita e as corporações continuam a explorar pessoas e a natureza, acumulando lucros e poder.
Sabemos bem como é fundamental construir solidariedade feminista, mesmo na distância física: fazemo-lo há 20 anos e neste contexto de crise pandémica. Estamos bem conscientes que o cuidado e o calor humano são e sempre foram elementos importantes para a vida, hoje este é necessário como condição para proteger e manter a vida. Isso faz-nos questionar: Como é que as mulheres, suas famílias e comunidades estão a sobreviver a esta pandemia? Até quando estaremos condicionadas por essa realidade? E quais são as mudanças que devem ser impulsionadas, urgentemente, para transformar nossas sociedades e superar este sistema?
Resistimos para viver
Neste contexto de crise pandémica, o conflito capital-vida tornou-se mais visível e paradoxal. As respostas que a maioria dos estados adoptaram para o cuidado das populações ameaçadas pela epidemia reproduziram os mecanismos patriarcais, racistas e coloniais do poder. Em muitos sítios, as medidas dos Estados passaram pelo policiamento e a retirada de direitos básicos para o exercício da participação e garantia das nossas liberdades revelando as prioridades e o uso da repressão para a manutenção da governação capitalista da vida.
Em tempos de COVID-19, bem sabemos que o “essencial” é limpar, nutrir, cuidar, tratar, educar. Produzir alimentos, trazer e levar bens essenciais, informar, organizar vontades, diagnosticar, buscar soluções e tratamentos. Tornou-se mais claro quais são os trabalhos essenciais para a vida - os cuidados (remunerados ou não), a produção de alimentos e todos os trabalhos cotidianos, muitas vezes invisibilizados, que garantem que a vida siga. E, tal como a crítica feminista tem lembrado, esse é um trabalho feito sobretudo por mulheres: uma parte dele, não pago, é feito nas famílias e nas comunidades mais próximas; outra parte, é muitas vezes mal paga, em condições de precariedade, sem direitos. Ou seja, o trabalho essencial à vida é o que tem permitido a nossa existência mas tem sido invisibilizado, desvalorizado e realizado à custa da opressão das mulheres e outrxs cuidadorxs.
Mas ficamos também a saber que o (nosso) trabalho até pode ser essencial à economia mas não podemos parar, mesmo colocando em risco a nossa saúde e a nossa vida. Aí reside uma estranha escolha de prioridades: apesar de ser o nosso trabalho que sustenta a economia, não é a nossa saúde, as nossas vidas, o bem estar comum que interessam. São muitas as empresas que não pararam, não garantindo as condições mínimas de segurança, ou, mais cruel ainda, a licença remunerada para trabalhadores/as doentes. Muitas empresas estão a exigir o mesmo de pessoas que estão em tele-trabalho, desconsiderando as mudanças concretas do cotidiano, casas que são escolas e local de trabalho, comprimindo tempo e espaço e aumentando a necessidade do trabalho doméstico e de cuidados, especialmente para as mulheres. Contra a ditadura do lucro, resistimos por uma vida digna.
Marchamos para transformar
É neste contexto em que a oposição entre capital e sustentabilidade da vida é revelada em toda a sua perversidade e exclusão, que precisamos mais do que nunca de visibilizar as nossas resistências e as nossas razões para marchar. As soluções têm de ser radicalmente diferentes e a sustentabilidade da vida deve ser a prioridade para a construção de respostas políticas e económicas viáveis. As experiências e práticas de resistências de mulheres em várias regiões do mundo têm viabilizado a vida contra a austerícidio imposto pelos estados e as corporações transnacionais. É urgente visibilizar as alternativas que estamos a construir: nos bairros, nas escolas, nos campos, nas ruas e nas redes sociais. A construção de uma economia solidária, a agroecologia, a soberania alimentar, a comunicação popular e a própria organização do movimento produzido pelas mulheres que sustêm a economia e, precisamente por essa razão, são quem a transformam radicalmente. As nossas alternativas feministas demonstram através de práticas concretas as possibilidades de transformação.
Resistimos para viver, marchamos para transformar!
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