quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Fecho da V Ação Internacional da Marcha Mundial de Mulheres, sob o lema Resistimos para viver, marchamos para transformar


No próximo sábado, dia 17 de outubro, será o encerramento 5ª ação da Marcha Mundial das Mulheres. Este é um importante momento mobilização e articulação deste movimento internacional com presença mais de 50 países e territórios e que celebra este ano 20 anos de existência.

A pandemia não deteve o nosso movimento, foi justamente o contrário: o nosso lema tornou-se mais concreto nestes tempos. Como movimento de mulheres anticapitalistas e anti racistas, estamos defendendo a vida há 20 anos e, por isso, não paramos de enfrentar a violência machista, racista e colonial e os avanços do conservadorismo. Seguimos lutando até que todas sejamos livres, pelas nossas vidas e por um futuro de igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz em todos os territórios do planeta. Resistimos para viver, marchamos para transformar!

As mobilizações tiveram início a 8 de Março, incluíram ações assinalando o Dia da Terra Palestina – Pela autodeterminação dos Povos (30 de Março); 24 horas de Solidariedade Feminista contra o poder das transnacionais (24 de Abril) e a Jornada Antiimperialista (25-31 de Maio). Para finalizar estava prevista uma atividade internacional na fronteira entre Guatemala, Honduras e El Salvador mas a pandemia da Covid-19 tornou inviável a viagem de ativistas e manifestações envolvendo mulheres de todo o mundo. Assim foi organizado um 
fecho descentralizado entre 12 e 17 de Outubro em cada dia damos visibilidade às atividades nas cinco regiões em que está organizada a Marcha: África (12), Europa (13), Ásia/Pacífico Sul (14), Médio Oriente/África do Norte (15) e Américas (16).  

Dia 17, terá lugar as 24 horas de ação feminista em que entre as 12h/13h realizaremos ações descentralizadas, no fuso horário de cada país, com início na Nova Caledónia e finalizando no Quebec. Às 12h de Portugal, um conjunto de organizações coletivos lançarão em em simultâneo nas suas redes sociais um vídeo com testemunhos de mulheres, dando corpo ao manifesto “Resistir para viver, marchar para transformar”Às 15h horas de Portugal, será transmitido em direto a atividade de fecho, no qual lançaremos a declaração de encerramento desta V Ação Internacional.

Resistir para viver, Marchar para transformaMarcha Mundial de Mulheres - Portugal 5ª Ação Internacional - Outubro 2020


O mundo não será o mesmo depois de 2020. As respostas neoliberais e repressivas à crise pandémica ameaçam as nossas vidas e a democracia. Mas perante este cenário organizamo-nos coletivamente para uma resistência global. Queremos alimentar a onda das mobilizações internacionais feministas, ambientalistas, anti-racistas, as lutas laborais e afirmar que estamos fartas deste sistema. É urgente construir e reforçar alianças para criar uma agenda comum para dar resposta à crise social que vivemos. Queremos iniciar uma transformação social global já! 

Por uma sociedade onde o cuidado pela vida, pelas pessoas e pelo ambiente seja sempre prioridade.

Resistimos para viver! Marchamos para transformar!

Resistimos aos programas de austeridade que provocam o aumento do desemprego, da desigualdade, da precariedade e da pobreza; legitimando ainda mais a sobrecarga de trabalho pago e não pago feito pelas mulheres. Marchamos contra a mercantilização das nossas vidas e dos nossos corpos!

Resistimos aos ataques ao direito à greve, à degradação das condições laborais  e à forte precarização do trabalho das mulheres. Marchamos por condições de trabalho e salários dignos.

Resistimos à sobrecarga dos trabalhos de cuidados que recaem sobre nós, só porque somos mulheres. Marchamos pela igual partilha do trabalho dos cuidados, pela dignificação das cuidadoras informais e pela valorização do trabalhos dos cuidados.

Resistimos aos abusos de poder e à desvalorização da violência que somos alvo. Marchamos para mobilizar a sociedade na denúncia do machismo institucional e da justiça machista!

Resistimos contra a discriminação das nossas múltiplas identidades de género e sexualidades e todas as formas de controlo sobre os nossos corpos. Marchamos pela livre expressão de género, pela diversidade sexual e pela autonomia sobre os nossos corpos!

Resistimos enquanto mulheres e ativistas racializadas para denunciar a mentalidade colonialista e o racismo estrutural da nossa sociedade! Marchamos por uma sociedade ativamente anti-racista e anti-colonial!

Resistimos à xenofobia, à “ilegalização” das nossas vidas, ao confinamento das pessoas refugiadas em campos sobrelotados e sem condições mínimas de dignidade. Marchamos por um mundo sem fronteiras e prisões, nenhum ser humano é ilegal!

Resistimos à expulsão dos centros das cidades, à mercantilização das nossas casas, às ameaças de despejos, à violação constante do direito fundamental à habitação. Marchamos por uma cidade feminista e inclusiva, que não expulsa os seus habitantes e cria espaços públicos e habitação para todas e todos.

Resistimos à degradação dos serviços públicos, à servicialização da economia e aos ataques à nossa soberania alimentar. Marchamos por uma economia feminista que ponha os cuidados pela vida, pelas pessoas e pelo ambiente no centro das decisões políticas!

Associação Portuguesa de Mulheres Juristas

Casa do Brasil de Lisboa

Climáximo

Comunidária

Clube Safo

Feministas em Movimento - FEM

Feminismo sobre Rodas

Habita - Associação pelo Direito à Habitação e à Cidade

HuBB Humans Before Borders

Instituto da Mulher Negra - INMUNE

LGBTI - Leiria

Nucleo Feminista de Évora

UMAR . União de Mulheres Alternativa e Resposta

UMAR-Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres

Subscrições devem ser enviadas para mmmulherespt@gmail.com 






sábado, 10 de outubro de 2020

 


Declaração da 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres 2020


Neste 17 de outubro de 2020, as feministas da Marcha Mundial das Mulheres, em mais de 50 países e territórios, chegámos ao encerramento da nossa 5ª Ação Internacional, que tem marcado nossa ação coletiva desde o 8 de março deste ano. A pandemia não deteve o nosso movimento, foi justamente o contrário: hoje mais que nunca, frente à escalada autoritária e reacionária do capital: Resistimos para viver, marchamos para transformar!

Nosso lema se tornou mais concreto nestes tempos. A solidariedade feminista que sempre tem sido nosso princípio, tornou-se a prática central na garantia da vida em comum, atacada por uma crise pandémica provocada pelo capital. A força das mulheres é incontrolável: para sustentar o mundo e para transformá-lo.
  
Em nossas comunidades, cidades e países, vivemos graças a uma economia que não para, nem pelo COVID-19. É a economia que sustenta a vida: a dos cuidados, das camponesas, das artesãs, e de diferentes circuitos económicos que ativaram e garantiram a produção de alimentos saudáveis e de serviços realmente indispensáveis.

A pandemia avança de maneira desigual, e é evidente como a direção política dos governos e do poder corporativo têm definido o impacto do COVID-19 nos nossos povos. A política de morte tem sido reforçada contra as e os mais pobres, a população negra, periférica e indígena.

Durante esse período, as mulheres na Palestina experenciaram com maior dureza os crimes da ocupação, a mesma opressão que se expressa sob diversas formas sobre as mulheres do Oriente Médio e África do Norte, especialmente Líbia, Síria, República Saharaui e Líbano. Além disso, territórios como Cuba e Venezuela enfrentam a intensificação do ataque imperialista à soberania popular, com seus bloqueios e ameaças de intervenções militares.

Em nossos lugares de vida e luta, denunciamos o uso da pandemia como desculpa para aumentar a militarização dos territórios e a criminalização dos movimentos sociais, abrindo ainda mais as portas para o poder das transnacionais e o endividamento, o ataque às democracias e a ampliação do controle das tecnologias de vigilância sobre nossa vida, nossos territórios, nosso trabalho. É um sistema que nos quer silenciadas, desmobilizadas e superexploradas. Por isso, somos atacadas quando lutamos pelos nossos direitos e autodeterminação.  

Portanto, dizemos não! Não ao apelo das elites e dos governos de direita para o retorno à normalidade. Porque o que eles chamam de normalidade, nós chamamos de capitalismo racista, patriarcal e colonialista, onde não há espaço para a vida, onde poucos se enriquecem com o trabalho e a pobreza da maioria e a isso dizemos basta! Nós, as que sustentamos o mundo com nossa energia, trabalhos e cuidados, do Norte ao Sul, dizemos que é o momento de construir outra normalidade, uma onde a vida e sua sustentabilidade estejam no centro. 

Como movimento de mulheres anticapitalistas e antirracistas, estamos defendendo a vida há 20 anos e, por isso, não paramos de enfrentar a violência machista, racista e colonial e os avanços do conservadorismo. Perante essa agenda da morte, colocamos em marcha a agenda da economia feminista, dos bens comuns e do poder popular. Nosso “resistimos para viver” é inseparável do “marchamos para transformar”.

Para nós, a sustentabilidade da vida é: a autodeterminação dos corpos e territórios; a memória e os conhecimentos ancestrais; a soberania alimentar, a agricultura familiar e camponesa, a agroecologia feminista; os cuidados, a produção, distribuição e consumo baseados em princípios da ecodependência e interdependência, em justiça ambiental, social e econômica; o direito de viver em um ambiente saudável e livre de violência patriarcal e racista, livre de transfobia e lesbofobia; o reconhecimento de que o trabalho doméstico e de cuidados é indispensável para a vida; o suporte dos sistemas de justiça antirracistas, a serviço do povo, em um mundo sem muros, onde as pessoas que migram sejam respeitadas e não criminalizadas. A sustentabilidade da vida só é possível com povos livres e soberanos, poder popular e democracia; com a desmercantilização da vida e o desmantelamento do poder das empresas transnacionais; com serviços públicos que garantam a reprodução social e o direito das mulheres de decidirem sobre seus corpos, entre muitos outros princípios e exigências políticas que vamos construindo em nossas resistências cotidianas.

Trazemos nossas lutas e práticas concretas que transformam, nossas novas formas de ação política concebidas desde as experiências coletivas e colocadas em marcha de alternativas contra hegemônicas, desde a solidariedade e o internacionalismo popular. Seguimos lutando até que todas sejamos livres, pelas nossas vidas e por um futuro de igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz em todos os territórios do planeta.

Resistimos para viver, marchamos para transformar!
Marcha Mundial das Mulheres, 17 de outubro de 2020