quarta-feira, 9 de setembro de 2020

5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres




Em muitos cantos do mundo, estamos-nos a preparar para promover um poderoso desfecho da V Ação Internacional, que é uma síntese das inúmeras discussões que tivemos neste ano.
Ancoradas em nossa experiência feminista de luta e rebelião, enfrentamos a escalada autoritária e reaccionária do capital: resistimos para viver! A partir das nossas práticas, utopias e esperanças, marchamos para transformar!
Acede a mais informações sobre o encerramento da V Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres em marchemondiale.org

Enfrentar o racismo defender a democracia


Enfrentar o racismo defender a democracia

Ao longo das últimas semanas assistimos à escalada de manifestações racistas a um nível que não podemos ignorar nem tolerar. É a nossa democracia e a nossa liberdade que está em causa. E a integridade pessoal e física de companheiros e companheiras de luta que está sob ameaça.

Depois do assassinato de Bruno Candé, após repetidas ameaças racistas e insultuosas, assistimos, no passado fim-de-semana, a uma concentração de um grupo neonazi em frente à sede do SOS Racismo. De máscaras brancas e tochas na mão, mobilizaram a simbologia performativa dos supremacistas brancos Ku Klux Klan, que fizeram linchamentos de afro-americanos nos Estados Unidos. Registaram o protesto e divulgaram-no nas redes sociais, numa clara indicação de que é uma organização que publicita a sua ação impunemente. Nos últimos meses esta e outras organizações tinham sido grafitadas com mensagens de incentivo ao ódio.

Há dois dias atrás a mesma organização anti-racista recebeu um email dirigido a 10 pessoas, entre elas ativistas e deputadas, intimando-as a abandonar o país em 48 horas, renunciando às “suas políticas”. Entre as pessoas visadas estão três deputadas - Beatriz Gomes Dias, Mariana Mortágua (do Bloco de Esquerda) e Joacine Katar Moreira (deputada não inscrita) – e sete ativistas que têm tido um papel fundamental na luta contra a recente escalada racista e a ameaça fascista em Portugal - Danilo Moreira, sindicalista, Jonathan Costa e Rita Osório, da Frente Unitária Antifascista, Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, Melissa Rodrigues, do Núcleo Anti-racista do Porto e Vasco Santos, do Movimento Alternativa Socialista.

Como se não bastasse o desrespeito à liberdade política e à democracia que representa essa intimação, a mensagem vai mais longe ameaçando com a adoção de medidas “contra estes dirigentes e os seus familiares, de forma a garantir a segurança do povo português”, caso não cumprissem a missiva.

Entendemos que estas ações representam uma nova escalada dos movimentos neonazis que não pode ser ignorada e subscrevemos as preocupações e exigências endereçadas por um conjunto de associações e coletivos anti-racistas e representativas de comunidades racializadas:

“Exigimos que os responsáveis políticos e institucionais,a quem endereçamos esta carta, accionem os mecanismos processuais para combater o racismo e o crescimento da extrema-direita, assim como dêem um sinal inequívoco e público sobre a inaceitabilidade de actos e organizações políticas e partidárias racistas e que demonstrem a sua solidariedade para com as vítimas destes ataques. A negação e inacção sistemáticas são o leito da impunidade do racismo que tem escalado para níveis a que já nos tínhamos desabituado. As nossas vidas importam. O silêncio das instituições é cúmplice.” (https://www.buala.org/pt/mukanda/carta-aberta-o-silencio-e-cumplice?fbclid=IwAR1jgMXMKzoxtYbsllGGkISCKE9NdiwCpKVBzp1BFdM5ZNO2lEBVLe1q5YE)

Lembramos que o n.º 4 do art.º 46º da Constituição da República Portuguesa (CRP) é muito claro na proibição deste tipo de ações e organizações quando refere que “Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.”

Lembramos que o prazo da missiva acaba hoje à noite e não a subestimamos. As organizações de cariz racista, fascista e neonazi alimentam-se do medo e da culpa para fazer vingar as suas posições.

Por isso exigimos não apenas que estas ameaças sejam investigadas mas também que sejam adotadas todas as medidas no sentido de garantir a integridade física e a segurança das pessoas visadas, assim como dos seus familiares.

Coordenadora Portuguesa da Marcha Mundial de Mulheres
 

 


Racismo e Anti-fascismo
24 de Junho
18H PT continental e Madeira e 17h nos Açores
19H Estado espanhol
19H Moçambique
14H Brasil (Rio de Janeiro)
13H EUA (New York)
Em 2020 a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) celebra os seus 20 anos enquanto movimento internacional. A nossa 5ª ação é um apelo à confrontação, a partir da perspetiva das lutas das mulheres, com a progressão das forças da extrema direita que articulam conservadorismo e neoliberalismo, ameaçando a vida e a democracia.
Não obstante as dificuldades que hoje enfrentamos, sabemos bem como é fundamental construir solidariedade feminista, mesmo na distância física: fazemo-lo há 20 anos e hoje, neste contexto de crise pandémica. Sendo mais difícil a realização de encontros e ações internacionais, a MMM de Portugal e da Galiza tomaram a iniciativa de realização de uma série de webinars para aprofundar reflexão estratégica que alimente as respostas feministas nestes tempos pandémicos. Pretendemos assim continuar tecendo redes na construção de alternativas reais e transformadoras.
No primeiro discutimos o papel crucial da reivindicação e construção de práticas assentes na soberania alimentar em tempos pandémicos. Pretendemos agora discutir o racismo e anti-fascismo.
Hoje, o conflito capital-vida tornou-se mais visível e paradoxal. As respostas que a maioria dos estados adoptaram face à ameaça da epidemia reproduziram os mecanismos patriarcais, racistas e coloniais do poder. Numa primeira fase, em muitos países a primeira resposta foi a de “business as usual”, minimizando a ameaça à saúde pública. Tornando-se evidente a necessidade de ação no sentido da contenção da pandemia, as medidas dos Estados passaram pelo policiamento, a restrição das nossas liberdades e o uso da repressão dentro da lógica manutenção da governação capitalista da vida - incluindo a exploração do trabalho dos cuidados.
Neste conflito capital-vida, não hesitamos, escolhemos a vida e por isso contestamos os ataques aos direitos democráticos e laborais. É no respeito na dignidade e autodeterminação humana e não no seu ataque que encontraremos as respostas para os estranhos tempos que vivemos.
Por isso não podemos deixar de saudar a onda de protesto e resistência em resposta ao assassinato de George Floyd e contra o racismo e todas as atrocidades da administração Trump. Vemos também com esperança a solidariedade internacional e a mobilização anti-racista que se tem alastrados a vários países do mundo, incluindo na Europa, sob o lema #vidasnegrasimportam.
Consideramos que estas mobilizações colocam novos desafios. Assim sendo, convidámos quatro ativistas anti racistas de diferentes movimentos e geografias:
Janvieve Williams Comrie - AfroResistancia, New York, EUA
Cristina Roldão - é socióloga, investigadora no CIES-IUL e professora da ESE-IPS. É uma voz activa no debate público e académico sobre o (anti)racismo em Portugal, Lisboa, Portugal
Elaine Monteiro - historiadora, militante da MMM Brasil e diretora de mulheres da União nacioal dos estudantes - UNE, Brasil
Graça Samo - Secretariado Internacional da Marcha Mundial de Mulheres, Moçambique.

Podes assistir ao debate aqui: https://www.youtube.com/watch?v=GL5fLTdTynE&t=3227s