sábado, 10 de outubro de 2020

 


Declaração da 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres 2020


Neste 17 de outubro de 2020, as feministas da Marcha Mundial das Mulheres, em mais de 50 países e territórios, chegámos ao encerramento da nossa 5ª Ação Internacional, que tem marcado nossa ação coletiva desde o 8 de março deste ano. A pandemia não deteve o nosso movimento, foi justamente o contrário: hoje mais que nunca, frente à escalada autoritária e reacionária do capital: Resistimos para viver, marchamos para transformar!

Nosso lema se tornou mais concreto nestes tempos. A solidariedade feminista que sempre tem sido nosso princípio, tornou-se a prática central na garantia da vida em comum, atacada por uma crise pandémica provocada pelo capital. A força das mulheres é incontrolável: para sustentar o mundo e para transformá-lo.
  
Em nossas comunidades, cidades e países, vivemos graças a uma economia que não para, nem pelo COVID-19. É a economia que sustenta a vida: a dos cuidados, das camponesas, das artesãs, e de diferentes circuitos económicos que ativaram e garantiram a produção de alimentos saudáveis e de serviços realmente indispensáveis.

A pandemia avança de maneira desigual, e é evidente como a direção política dos governos e do poder corporativo têm definido o impacto do COVID-19 nos nossos povos. A política de morte tem sido reforçada contra as e os mais pobres, a população negra, periférica e indígena.

Durante esse período, as mulheres na Palestina experenciaram com maior dureza os crimes da ocupação, a mesma opressão que se expressa sob diversas formas sobre as mulheres do Oriente Médio e África do Norte, especialmente Líbia, Síria, República Saharaui e Líbano. Além disso, territórios como Cuba e Venezuela enfrentam a intensificação do ataque imperialista à soberania popular, com seus bloqueios e ameaças de intervenções militares.

Em nossos lugares de vida e luta, denunciamos o uso da pandemia como desculpa para aumentar a militarização dos territórios e a criminalização dos movimentos sociais, abrindo ainda mais as portas para o poder das transnacionais e o endividamento, o ataque às democracias e a ampliação do controle das tecnologias de vigilância sobre nossa vida, nossos territórios, nosso trabalho. É um sistema que nos quer silenciadas, desmobilizadas e superexploradas. Por isso, somos atacadas quando lutamos pelos nossos direitos e autodeterminação.  

Portanto, dizemos não! Não ao apelo das elites e dos governos de direita para o retorno à normalidade. Porque o que eles chamam de normalidade, nós chamamos de capitalismo racista, patriarcal e colonialista, onde não há espaço para a vida, onde poucos se enriquecem com o trabalho e a pobreza da maioria e a isso dizemos basta! Nós, as que sustentamos o mundo com nossa energia, trabalhos e cuidados, do Norte ao Sul, dizemos que é o momento de construir outra normalidade, uma onde a vida e sua sustentabilidade estejam no centro. 

Como movimento de mulheres anticapitalistas e antirracistas, estamos defendendo a vida há 20 anos e, por isso, não paramos de enfrentar a violência machista, racista e colonial e os avanços do conservadorismo. Perante essa agenda da morte, colocamos em marcha a agenda da economia feminista, dos bens comuns e do poder popular. Nosso “resistimos para viver” é inseparável do “marchamos para transformar”.

Para nós, a sustentabilidade da vida é: a autodeterminação dos corpos e territórios; a memória e os conhecimentos ancestrais; a soberania alimentar, a agricultura familiar e camponesa, a agroecologia feminista; os cuidados, a produção, distribuição e consumo baseados em princípios da ecodependência e interdependência, em justiça ambiental, social e econômica; o direito de viver em um ambiente saudável e livre de violência patriarcal e racista, livre de transfobia e lesbofobia; o reconhecimento de que o trabalho doméstico e de cuidados é indispensável para a vida; o suporte dos sistemas de justiça antirracistas, a serviço do povo, em um mundo sem muros, onde as pessoas que migram sejam respeitadas e não criminalizadas. A sustentabilidade da vida só é possível com povos livres e soberanos, poder popular e democracia; com a desmercantilização da vida e o desmantelamento do poder das empresas transnacionais; com serviços públicos que garantam a reprodução social e o direito das mulheres de decidirem sobre seus corpos, entre muitos outros princípios e exigências políticas que vamos construindo em nossas resistências cotidianas.

Trazemos nossas lutas e práticas concretas que transformam, nossas novas formas de ação política concebidas desde as experiências coletivas e colocadas em marcha de alternativas contra hegemônicas, desde a solidariedade e o internacionalismo popular. Seguimos lutando até que todas sejamos livres, pelas nossas vidas e por um futuro de igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz em todos os territórios do planeta.

Resistimos para viver, marchamos para transformar!
Marcha Mundial das Mulheres, 17 de outubro de 2020


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